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Diatomácea
© Anne-Gleich

Os estudos sobre mudança climática, diminuição da biodiversidade e problemáticas entorno da água são numerosos e continuam crescendo.

 

Como resposta ao atordoamento que provoca este imenso volume de informações não muito alentadoras sobre o futuro do planeta, o encolhimento à própria pequenez nos parece uma opção não pouco sensata.

 

Ao voltarmos tão pequenas quanto uma gota d'água, sua invisibilidade se torna um mundo misterioso por ressurgir.

Esta intuição nos leva às profundezas da própria água, que, podendo parecer simples e insignificante, esconde um microcosmos que a transforma em vida a cada segundo.

Que mundo é este, e porque ele é importante para a inteligência ambiental que queremos atingir?

O micro nos ensina a transbordar as bolhas humanas para entrar em outras, expandir o campo do olhar sensorial e da (im)materialidade da arte para acompanhar a água na sua viagem, nômade e intercomunicada ao alto e largo da biosfera, como tentativa de sentir as cores ancestrais daquilo que chamamos de natureza e por fim, respirá-la para nosso agir contemporâneo e perdido.

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Conochilus
© Felipe Sonora

Uma floresta dentro de uma gota d'água

Aparentemente vazia, no pequeno corpo da gota d'água habita uma floresta formada por seres microscópicos fascinantes que fazem d'água, água viva. Dentre eles, chama especial atenção o Fitoplâncton (phyto = "vegetal" + planktós = "errante"), seres fotossintetizantes que vivem à deriva em todo meio aquático e que, desde há bilhões de anos, vêm transformando em verde e azul o manto do planeta.

Escutada, sua voz nos sussurra formas de rever os modos de pensar, agir e sentir a nossa casa planetária.

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Melosira monoliformis
© Frank Fox
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fitoplâncton (phyton = "vegetal" + planktós = "errante")

planeta (planaomai = "errante")

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Duas bolhas, relativamente distantes em tamanho, mas próximas em suas derivas, -planeta e plâncton- contém a mesma origem etimológica: ser errante-.

 

É por esta razão que a viagem ao coração da gota d'água que propomos é, em realidade, uma viagem ao coração do que entendemos como mundo. Ao observar seu micro, surgem os principais argumentos de porque o fitoplâncton, -o verde ancestral, a floresta da água- é tão importante para a manutenção da vida no planeta: desde a invenção da fotossíntese, passando pela criação da Camada de Ozônio, a transformação radical do planeta de basicamente inerte a ser o Gênesis da explosão cambriana de biodiversidade há 540 bilhões de anos.

 

Uma de cada duas respirações que fazemos é gerada graças àquilo que é residual para o fitoplâncton, mas vital para nós: o oxigêno. E o dióxido de carbono que produzimos é necessário para a transformação de energia lumínica em alimento tanto as plantas nos continentes como nos oceanos. Toda a vida animal depende do corpo vegetal, seja a partir das plantas nos continentes ou a partir do fitoplâncton no meio aquático do planeta.

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Conochilus
© Massimo Brizzi

Sendo sensíveis a estes desafios, cabe nos perguntar, como a arte pode lidar com a incerteza ambiental planetária que afeta não apenas as nossas redes, mas as de todas as espécies?

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manifesto

fitoplâncton

Diatomácea
© Anne-Gleich

que fundamentos nos sussurra uma gota d'água?

Brincando com escalas macro e micro, os conceitos que surgem do estudo relacional entre o fitoplâncton, noções budistas, cosmovisões indígenas e as artes, Manifesto Fitoplâncton compõe um arquipélago imaginário formado por três fundamentos que chamamos de Ressurgências

fluidez

circularidade

diversidade

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Diatomácea
© Anatoly Mikhaltsov
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bio-arquiteturas

do mínimo

vazio

agora

ritmo

Diatomácea
© Paolo Calcidese

fluidez

"Ser fluidez" condiz com a característica de que todos os seres são mistura, metamorfose e relação, pois o mundo natural. Invisíveis como o Sol, que de tão onipresente se torna ignorado, as colônias fitoplanctônicas não têm solo nem ar, mas água arredor onipresentemente. Ao ser a água o único meio que conhecem, a microalga faz da água parte essencial de seu corpo e mimetiza sua existência quase translúcida, diluindo-se com ela, a tal ponto que o olho humano não as distingue. Assim, onde começa a água e acaba o organismo?

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No plano macro, correntezas marinhas provocadas pela rotação do planeta, ventos, densidade, pressão, magnetismo ou temperatura entre outras forças, movimentam o plâncton e todo o fluxo de energia se mistura rapidamente. Para serem observados em toda sua grandiosidade é preciso nos valer de outro observatório maquinado, os satélites orbitando arredor da Terra. As imagens que os satélites da NASA captam das massas de cor fitoplanctônicas  mostram como a força locomotiva destes seres sem pernas, asas ou barbatanas reside em sua capacidade de confiar na fluidez do meio.

Descolar nossa escala limitada para olhar o planeta como um todo interconectado traz uma visão holística da fluidez.

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© Norman Kuring-NASA

circularidade

A Ressurgência Circularidade avista o caldo migratório da vida nos oceanos, ativa a energia migrada através de um ciclo autopoiético e o transborda ao campo das artes, sugerindo uma nova arte-folha que visa produzir regeneração material em benefício mútuo.

na natureza

nada é residual

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Triceratum
© Anatoly Mikhaltsov

Fórmula química simplificada entre a fotossíntese e a respiração celular

Luz solar + 6CO2 (dióxido de carbono) + 6H2O = C₆H₁₂O₆ (glicose) + 6O2

C₆H₁₂O₆ (glicose) + 6O2 = 6CO2 + 6H2O

A fotossíntese é um processo químico fascinante e nos mostra como, mais uma vez, para a natureza não existe o residual: a matéria é aproveitada e introduzida rapidamente no ciclo regenerativo de multiplicação de vida e biodiversidade uma e outra vez. Nos oceanos, o fitoplâncton converte a matéria inorgânica em vida e, em consequência, cria as condições adequadas que beneficiam sua própria manutenção.

diversidade

Dentro de uma invisível gota d'água, a variedade de formas, texturas, cores, bioarquiteturas, materiais e relações dos seres fitoplanctônicos é surpreendente. Mal podemos imaginar que em 1mm de água possam chegar a coexistir mais de 2.000 espécies diferentes! Mais de 10.000 espécies formam os grupos majoritários formados por diatomáceas, radiolários, clorofilas, cianobactérias, dinoflagelados e cocolitóforos.

equilíbrio dinâmico interconectado

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Contrária a ocupação destruidora do meio em benefício próprio, a ocupação verde é uma fonte de atração de outros seres vivos que os beneficia e os leva a uma profunda relação simbiótica.

Uma floresta é uma floresta porque ela é biodiversa: mantém uma rede quase infinita de conexões, visíveis e invisíveis entre os seres que a habitam. Deste modo, se torna verdadeiramente sustentável, ao fomentar através dela, teias de vida para todos os seres vivos, sempre, e quando contribuíam para a manutenção do hábitat que lhes dá a vida.

como é ser, sentir e pensar como uma floresta?

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tudo é teia

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